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Entrevista da médica infectologista Maria Paula Gomes Mourão

  • Publicado: Quarta, 06 de Mai de 2020, 00h44
  • Última atualização em Quarta, 06 de Mai de 2020, 00h44

"À medida que nós temos uma pandemia instalada e a população não adere de forma eficiente às medidas de isolamento e de distanciamento social a gente passa a ter um acúmulo grande de casos sintomáticos num mesmo espaço de tempo e isso satura o sistema de saúde. Saturando o sistema de saúde começa a aparecer um contingente grande de causas indeterminadas. Essas causas indeterminadas, boa parte desses pacientes, chegam ao serviço de saúde, onde o óbito acontece, nas últimas horas que antecedem ao óbito. Aí, de fato, não é possível que o profissional que atendeu esse paciente ateste, de forma apropriada, qual foi a causa de óbito. Ou, muitas vezes, esse paciente vai à óbito em casa e já vai levado ao serviço de saúde para que o óbito seja atestado.

 Além disso, nós temos uma dificuldade grande de testes diagnósticos para COVID no estado. Então, muitos casos sintomáticos, que evoluem para o óbito, o resultado dos testes só irá sair muitos dias após o óbito. E isso não entra no atestado de óbito daquele paciente, não entra para o registro do óbito, para a declaração do óbito. Isso faz com que o dado do cartório seja muito mais sensível, infelizmente, do que o dado da vigilância, particularmente nessas circunstâncias em que o sistema da saúde está saturado e muitas pessoas não chegam ao sistema de saúde em tempo hábil, antes do óbito acontecer.

Um outro dado que está muito relacionado com isso é a nossa incapacidade de diagnóstico oportuno. O Amazonas, à experiência do que aconteceu em epidemias anteriores, mais uma vez, optou por centralizar o diagnóstico exclusivamente no LACEN, que é um laboratório que se destina a fazer vigilância e não, necessariamente, ao diagnóstico. Nessa doença específica, o coronavírus, nosso principal recurso diagnóstico é a reação em cadeia da polimerase, que não é um recurso diagnóstico simples, não é fácil, que não pode ser feito em qualquer laboratório, nem por qualquer técnico. É uma técnica que exige uma estrutura física compatível, uma experiência do profissional que está desenvolvendo.

Então, eu não tenho dúvida de que os dados que aparecem para a vigilância para os casos confirmados representam pelo menos de 1/3 a 1/5 dos casos reais que nós temos de infecção por coronavírus no estado. Isso porque nós não temos capacidade de que um único seja capaz de fazer o diagnóstico para todo o estado".

Maria Paula Gomes Mourão

Médica infectologista da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado

Profesora de doenças infeccionas na Universidade Federal do Amazonas

 

 

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